Homem nu em estátua de praça no Rio
O que leva um homem a subir nu em uma estátua a sete metros do chão? Loucura? Insensatez? Arte! Essa é a resposta de Chico Fernandes, de 37 anos, para ter escalado o monumento dedicado ao General Osório, na Praça XV, no Centro do Rio, no último dia 17.
No local, ele fez uma performance em que dizia que só deixaria a estátua depois que todos fossem vacinados contra a Covid. Acabou retirado do local por agentes do programa Centro Presente e levado para a 4ª DP, na Central do Brasil, onde assinou um termo circunstanciado por atentado ao pudor. A performance viralizou nas redes sociais.
Mas nada disso é novidade na vida de Chico. Artista performático dedicado a usar o próprio corpo nu desde 2017, ele procura fazer intervenções artísticas no contexto urbano para gerar algum tipo de reflexão crítica.
“Se eu estivesse em um museu, atingiria apenas um público elitizado que iria lá para ver isso. Nas ruas atinjo mais gente e produzo todo tipo de reflexão: riso, raiva, incômodo”, diz ele que conta com a ajuda do pai, o também artista Silvio Aguiar, de 68 anos, e de fotógrafos que registram o trabalho.
Entre as intervenções já realizadas, Chico banhou-se na saída de esgoto do Rio Faria Timbó, em Inhaúma, saiu nu do mar do Leblon usando máscara e riscou cruzes de mortos da pandemia sob os fogos de artifícios do Complexo do Alemão durante o último Ano Novo.
“O que choca mais: um homem nu usando máscara durante a pandemia ou um banhista de sunga, mas sem o EPI na praia?”, provoca.
A inspiração para o trabalho do “Peladão da Praça XV” ou do “Maluco da estátua” – apelidos dados ao último trabalho – vem de Aimberê Cesar, artista performático que morreu em 2016, e passa ainda pelos estudos realizados em seu doutorado sobre processos artísticos contemporâneos, sob supervisão de Ricardo Basbaum – renomado artista e crítico de arte.
Chico também já deu aula de arte no Rio e em Porto Alegre, de onde vem parte de sua família, mas deixou as salas de aulas para se dedicar ao doutorado.
“Não tem nada de loucura ali. Tudo é pensado. Desde a postura que não exiba o meu falo e não choque as pessoas, as palavras ditas e o desvio do contato visual direto com o outro para não gerar nenhum tipo de lascívia”, disse.
Ele lembra uma nota do Ministério Público Federal, de 2017, pontuando que “a nudez de uma pessoa adulta, sem prática de ato público voltado à satisfação da lascívia, não constitui crime no direito brasileiro”.
Chico conta, ainda, que com a nudez no cenário urbano espera “algum tipo de reflexão das pessoas” e que o filho dele, de 6 anos, “tenha orgulho”.
Ele acrescentou que não se importa em arriscar o próprio corpo, desde que isso resulte em arte.